
Foto: arquivo pessoal
Eu sempre soube que seria mãe, talvez só não imaginasse que seria por outras vias.
Em 1992 me casei com o Carlos, e em julho de 1994 resolvemos fazer inscrição para adotarmos uma criança.
Em 29 de setembro do mesmo ano, recebemos uma ligação que mudou nossas vidas … vinha da cidade onde havíamos feito a inscrição.
Eram dois meninos, gêmeos de 19 dias.
No dia seguinte, logo cedo partimos para nossa aventura, buscar nossos filhos … NOSSOS FILHOS – como eu esperava dizer isso !
Passamos o dia no fórum cumprindo toda a burocracia, conversando com psicólogas, assistentes sociais, juiz, médico que fêz o parto … e no final da tarde buscamos NOSSOS FILHOS no hospital, pois eles ainda estavam lá.
A sensação de pegar aqueles dois pacotinhos nos braços é indescritível e começamos ali a nossa nova vida.
Eram bebês espertos, calmos, se alimentavam muito bem e tudo corria direitinho, mas ao longo dos meses comecei a perceber alguma coisa diferente.
Comparado com bebês da mesma idade, demoraram para sentar, ficar de pé, e eu sempre perguntando para o pediatra sobre isso e ele me dizia que era absolutamente normal, cada um tem seu tempo e o tempo caminhava para nós …
Acabavam fazendo tudo, mas sempre com uma diferença de meses para as outras crianças. Foram para a escola cedo, com 1 ano e 8 meses, o próprio pediatra fez a indicação para que tivessem estímulo, e lá realmente tiveram avanços, mas mesmo assim eu continuava com aquela interrogação na minha cabeça, não suportando mais perceber essas diferenças.
Autismo
Quando eles estavam com quase 2 anos de idade, levei-os ao neurologista e com apenas alguns exames, o médico disse que meus filhos não andariam, não falariam e que seriam apenas dois vegetais.
Fiquei zonza. Tive a nítida sensação de que ia desmaiar, mas não podia. Chorei sim, por dois dias. Mas, no terceiro dia vi que chorar não resolveria o problema e busquei outros profissionais da área de saúde.
Nesse outro especialista as notícias não eram tão ruins, tivemos o primeiro diagnóstico do Transtorno Global do Desenvolvimento do espectro autista, e ele nos deu o caminho a ser seguido : fono, terapia, estímulos de um modo geral.
Aos 3 anos matriculei meus meninos em uma outra escola pequena e regular (particular). Enquanto a questão era só brincar, estava tudo certo, sem nenhum problema, mas a partir do momento em que foram crescendo fisicamente (e mentalmente comprometidos), tudo se complicou, pois pedagogicamente não evoluíam, precisavam ficar em classes com crianças pequenas e eles bem maiores que os demais alunos.
Meus problemas começaram, as mães se assustavam com o tamanho deles e sempre achavam que no caso de uma agressão, seus filhos, tão pequenos e indefesos seriam massacrados, embora, meus filhos nunca tenham sido agressivos. Nesse momento, a escola me chamou e pediu, educadamente, que seria o melhor para eles irem para uma escola com estrutura melhor para recebê-los.
Baseada e influenciada pelas idéias de psicólogos, insisti que ficassem em uma classe regular. Novamente o martírio: pedagogicamente, a escola estava preparada, com um currículo feito especialmente para eles, mas, socialmente, o sofrimento começou, não eram chamados para festinhas de aniversários, para participarem de grupos de trabalho e jogos de futebol e nem a tão natural paquerinha acontecia com eles.
Eram pessoas diferentes, com uma mãe e especialistas insistindo na tal inclusão.
Aos 14 anos, ELES pediram para estudar na classe de Núcleo – que era a classe especial do colégio.
E lá foram felizes, participavam de tudo, eram chamados para todas as festinhas, tinham amigos.
Com 18 anos, comecei a perceber que a escola tinha atingido o limite para eles, já iam para a escola sem entusiasmo, perguntavam quando iriam para a faculdade, o que na verdade, depois entendi, que não era a faculdade e sim alçar novos vôos.
Nesse momento, preparei uma rotina para eles para que pudessem sair da escola: curso de informática profissionalizante, academia e teatro, sugerindo isso para eles, até que, no último dia de aula e para minha surpresa, chegaram e jogaram o uniforme no lixo.
Aquilo, para mim e para a psicóloga deles, foi a materialização do quanto estavam felizes em poderem sair da escola.
Hoje, são dois rapazes de 21 anos, concluíram o curso de informática, um deles faz academia e o outro dança, cursam teatro duas vezes por semana, local este onde realmente houve estímulo, aprenderam a se socializar em qualquer ambiente, conversar, ter iniciativa, perder os medos, assumir responsabilidade.
São felizes e para nós, pais, isso era e continua sendo o único objetivo.
O futuro? Não sabemos … é um dia de cada vez, mas já não sofremos tanto, a felicidade deles nos estimula e nos mostra que estamos no caminho certo.
Ana Maria Elias Braga, mãe do Rafael e do Renato Braga
Contato: aninhaautismo@hotmail.com
<3
Parabéns sempre!
Ah minha amiga Ana, como eu te admiro, e cada vez mais e mais.
Parabéns por toda trajetória e principalmente por nos inspirar sempre.
Linda história <3 Exemplo de amor. Parabéns!
Andrea, você acha que a classe regular é mesmo mais bacana para a criança autista?
Quanto eu era criança tínhamos um menino na sala que com certeza tinha algum comprometimento neurológico. Eu tinha pena dele porque estava sempre sozinho. Nós o respeitávamos mas amigos mesmo ele não tinha. E também não lembro dele em nenhuma festinha.
20 anos depois vejo minha irmã com 18 anos em uma escola com muitos autistas, crianças com down. Na sala dela tem um garoto grandão, com 18 anos mas comportamento de 6 anos. Ele é respeitado, participa das atividades com todos, mas também anda sempre sozinho. Ela me diz que todos interagem com ele numa boa, mas o enxergam como uma criança que precisa sempre ter alguém cuidando pois faz travessuras típicas de criança, quer subir na árvore, pular muro, etc. E aí ele fica sozinho de lá pra cá na escola. E isso faz surgir o pior sentimento em relação ao autista que é a pena.
Fico pensando em como os pais conseguiriam perceber que o melhor para o filho é a classe regular ou especial.
Paula, eu acho que cada criança é um caso. Aqui fora se usa muito a sala especial dentro da escola regular para autistas moderados a severos. Para o Theo, funcionou muito bem! Eu não acho que ele conseguiria acompanhar a sala regular mesmo com suporte. Na sala especial ele tem um professor dedicado a ele e tem, realmente, aprendido! E vai felizão pra escola todos os dias, o que é o mais importante.
Que linda história ! Obrigada por comparti-la conosco. Uma grande inspiração. Abraços
Linda história, fiquei emocionada!!