Uma vez, li em um lugar que ser mãe é viver com culpa. Acredito que não seja só privilégio das mães, já que a culpa é uma coisa bem presente na nossa cultura judaico-cristã. Mas, sim, acho que as mães sentem isso na pele de forma mais contundente e mais frequente.
Ontem, estava falando com uma amiga muito querida, a Fausta Cristina, do blog Mundo da Milena. A Cris é uma pessoa que parece que eu conheço há milênios. Temos uma ligação inexplicável e sinto que até pensamos juntas algumas vezes. E, em meio a tantas novidades pra contar, o papo caiu aí: culpa.
Comentei com ela que sinto uma culpa enorme por não ter aproveitado da melhor maneira o Theo quando era bebê. O diabinho que fala ao meu ouvido fica repetindo o seguinte:
“Theo era um bebê lindo! Fofinho! Risonho! Um neném que buscava a interação constantemente (até porque os sintomas de autismo só se manifestaram nele com 1 aninho). E você só ficava reclamando do sono, do cansaço, de não poder sair por muito tempo por causa da amamentação. Você só reclamava. Poderia ter curtido mais, aproveitado mais, antes que o autismo se manifestasse e ele passasse a se isolar”.
Há alguns anos, quando já tínhamos o diagnóstico do Theo, tive uma vontade enorme de engravidar de novo. Um desespero que demorou a passar. E, agora, me auto analisando, sei que um dos fatores que me levou a isso foi “querer fazer de novo de uma forma melhor”. Querer ter outro bebê para aproveitar mais. Para ser uma mãe melhor.
A fase passou. Eu entendi e assimilei de onde veio a crise.
E, voltando à Fausta Cristina, claro que ela teve uma palavra de sabedoria pra me passar quando contei isso, ontem, pra ela. E o que ela me disse foi que pouca gente na vida aproveitou tanto um bebê como ela. Porque ela sabia que a Milena seria sua última filha, sua última maternidade. Ninguém beijou tanto um pezinho, umas dobrinhas, como ela. E ela fazia isso com consciência. E, hoje em dia, ela continua achando que poderia ter aproveitado mais. Poderia ter curtido mais.
Então, minha gente, a verdade é que nunca vamos estar satisfeitas. A culpa vai estar sempre ali por um simples motivo: o tempo passa muito rápido. Meu bebê virou um garotinho como num passe de mágica. As mangas foram ficando curtas, as camisas mostrando a barriga, as calças encolhendo. Tudo pela mão incansável do tempo.
E eu posso não ter curtido o Theo tanto quando eu acho que devia, mas eu fui, sim, uma boa mãe. E a prova disso é que o Theo é um menino feliz. O Theo sabe que é amado. E eu sei que ele sente que fazemos o que consideramos o melhor pra ele.
E, agora, queria pedir pra quem também tem um diabinho colado na orelha pra que dê um tempo. Tente não ouvir o que ele diz, pelo menos um pouco. Mande ele calar a boca, numa boa!
Tenho visto coisas horríveis no Facebook nas últimas semanas. Mães postando coisas como “meu filho é autista por minha culpa”. “Ele se tornou autista porque fiz A ou B e eu é que devia ter me informado melhor antes”. O cúmulo foi quando caí em um texto em inglês, em um blog, cujo título era “Como eu deixei meu filho autista”. E, nesse texto, a mãe enumerava várias coisas que teria feito (nenhuma com qualquer comprovação séria) e que, teoricamente, teriam desencadeado o autismo no filho.
Gente, uma palavra: MENOS. Por favor. MENOS.
A minha terapeuta costumava dizer que precisamos ser gentis conosco. Que nos preocupamos tanto com o outro, com o que dizemos ao outro, mas nos dizemos coisas horríveis em nossos próprios pensamentos.
Uma mãe normal ama o seu filho e quer o melhor pra ele.
O que quer que você tenha feito, foi pensando que estava fazendo o melhor. Nossos filhos não ganham nada com esse tipo de culpa.
(E aqui vai um lembrete: CUIDADO com o senhor Google. Não acredite em tudo o que lê)
Aprendi com o Theo que ele está feliz se nós estivermos felizes. Nenhuma mãe é feliz carregando um fardo de duas toneladas nas costas.
Por favor…POR FAVOR! Seja gentil com você mesma! Por você! E, acima de tudo, pelo seu filho!
Era tudo o que eu precisava ouvir… O Gui não tem diagnostico fechado, estamos entre autismo e TDAH, tendendo mais para o segundo. E por mais que eu leia, que eu pense, que eu cobre da escola melhores atitudes em relação a ele, que eu vá há vários médicos e converse com outras pessoas… tente mudar meus hábitos e atitudes para ser um exemplo melhor… Me sinta sempre exausta pois sempre sobra tarefas no final do dia. SEMPRE me parece que eu poderia fazer mais…. E tb acho que aproveitei pouco quando era bebê, alias acho que a gente nunca vai aproveitar o suficiente cada fase, pois é tanto amor que não comporta para uma vida apenas… Brigada pela injeção de ânimo, eu precisava disso hj!
Somos duas,já…!!! Meu menino está com quase 10 anos e eu me vejo dando ouvidos para essa parte negativa do meu ego…será que fiz bem em colocar aparelhos para ouvir? será que fiz bem em levar ele para aprender LIBRAS? será que isso foi o que o isolou e mudou sua forma de ver o mundo? será que não dei a ele amor suficiente?…será ,será…mas você falou tudo,minha flor…a gente erra tentando acertar, e somos de carne e osso,mas queremos nos comportar como se fossemos de ferro…Iron man é moleza para mãe de pessoinhas especiais,a gente vive se cobrando…e este tipo de incentivos, chega para nos como uma brisa fresca, que alivia a alma..Feliz por ter achado você… <3!!!
Somos todas umas bobas.Sabemos que fizemos o melhor que podiamos e ainda assim sofremos pelo que deixamos de fazer.
Eu também já sofri demais por isso… e é um sofrimento que não muda as coisas, não nos faz chegar a lugar algum, dias atrás ouvi de uma pessoa que se eu mudasse (o meu comportamento – sei lá qual – para com meu filho) ele mudaria também! Santa ignorância de alguém completamente desinformado!!!
Antigamente eu ficava buscando todo tipo de informação, hoje não, estou bem mais seletiva, só vou atrás do que realmente vai fazer diferença, só converso com quem vive o assunto, com quem tem algo de novo e de útil a me dizer.
Lindo e tão perfeito para mim nesse momento! Com um diagnóstico tão recente, pouco mais de dois meses, me culpar é o que mais tenho feito… sensação de ter feito tudo errado até agora e impotência por não saber como devem ser os próximos passos… suas palavras me acalentam e as procuro diariamente, na esperança de diminuir essa dor que, por enquanto, ainda está forte demais…
Cada uma de nós carregamos uma culpa; a minha é porque Aguinaldo Filho não lê, não escreve, fico com sentimento de culpa por não ter acompanhado ou colocado alguém desde os dois anos para acompanhar as atividades de perto; mas ao mesmo tempo relaxo, quando lembro de quando ele era bebê que desde 1 ano e meio que comprávamos revistas com alfabetos, números e pinturas, e a moça que o acompanhava fazia isso bem direitinho. Então penso! não foi por conta de estímulo.
Andrea,
E verdade, eu fui mae de um filho so por quase 6 anos e posso garantir que fiz a mesma coisa que a Fausta Cristina qdo tive meu segundo filho, comecando pela gravidez… Eu sempre falo que o Nicolas fez de mim mae e que o Victor nos deu de volta a alegria, felizes nos sempre fomos com ou sem autismo.:) Mesmo assim qdo Victor tinha 1 aninho eu queria outro filho, porque o prazer de ser mae de bebe e muito, muito bom… Claro que e cansativo, que a gente mal consegue dormir, tomar banho e comer, mas e muito, muito bom segurar, amar, paparicar, sentir aquele cheirinho de ceu… Com a diferenca de idade dos meninos eu estou sempre um passo atras com o mais novo tentando segurar o tempo… e com o mais velho eu anida sinto aquele ar de OMG como pode! Ser mae e aproveitar todos os momentos com prazer e gratidao, a culpa ronda a gente, mas… a direcao da vida e recompensada.:) Beijos pra voce e pra Fausta.
Excelente como sempre!! Eu vivo com um diabinho na orelha também!!! Como trabalho o dia inteiro sinto uma culpa absurda por passar pouco tempo com o meu filho…mas amei essas últimas palavras “Aprendi com o Theo que ele está feliz se nós estivermos felizes. Nenhuma mãe é feliz carregando um fardo de duas toneladas nas costas.
Por favor…POR FAVOR! Seja gentil com você mesma! Por você! E, acima de tudo, pelo seu filho!”… tenho que colocar em prática!!!
Olá, Andrea. Que texto lindo e sensivel, me tocou profundamente. Quando me separei a minha princesa tinha apenas 2 aninhos e sinto que perdi muitos momentos por estar presa a todo o turbilhão que a separação causou na minha vida. E esse diabinho da culpa sempre me acompanha, me lembrando dos momentos que eu perdi e que jamais irão voltar…
Ler seu texto hoje me fez sentir mais leve, menos culpada e mais consciente que eu faço o melhor que posso e que sempre haverá culpa, como você mesmo ressaltou!
Obrigada pelo carinho nas palavras!
Um super beijo para ti e para o Théo.
PS: meu bebê futuro também se chamará Théo, acho esse nome lindo!
Como é bom chegar no serviço e ver que tem um texto legal me esperando!
Andrea, também senti culpa, e muita, mas em relação ao meu segundo filho. A diferença entre ele e o irmão asperger mais velho e de um ano e meio. Tenho mil fotos do primeiro, com cada roupinha nova,eu não tinha babá, cuidava dele sozinha. Quando veio o segundo, minha vida virou uma loucura, descobrimos o probleminha do primeiro e fui correr atrás, um milhão de médicos, terapeutas…resultado: o pequeno cresceu e eu nem vi. Tento não pensar nisso, recompensar, recuperar o tempo perdido… Fato é, sou uma só, amo os três da mesma forma, mas sei que tem um que precisa mais de mim. Bola pra frente!
Essa moça aí… a tal da Andréa, faz isso com tudo… tudo ela torna especial, grande, significativo… conversas, encontros, sentimentos, tudo ela transforma em aprendizagem e transformará mais compartilhando, tornando comum, dividindo com os outros. Dizem que inteligente é aquele que aprende com as próprias experiências e sábio é quem aprende também com a experiência alheia… pois bem, este blog, este espaço é uma mina de saber para quem busca aprender alguma coisa nesta jornada que é ser mãe e ainda mais ser mãe de alguém com autismo. Amo ser parte disso, uma grande honra!
Que texto lindo! Adorei. Não deve sentir culpa não, Theo é um meninão lindo demais!
Beijão
Não tem como não chorar,lendo um texto desse, é muito profundo!!!bjs Andréa pra vc e pro Theo!!!
Andrea, parabéns pelo texto. Não só ajudou as mães, como todos aqueles que apesar de tanto esforço ainda acham que não fizeram tudo.
Gostei muito do texto. Ultimamente, “culpa” tem sido meu sobrenome. Vivo me culpando por tudo que acontece de errado com meu filho ou pelas atitudes erradas que acabo cometendo com ele por impaciência, medo e exaustão mental. É dicífil. Queria muito me livrar dessa porcaria de culpa, mas a “bendita” vai me acompanhar por muito, muito tempo.
Aprove
Enviada do meu iPhone
Ontem passei pela porcaria de uma reunião de pais e professores onde todos comentavam sobre seus filhos participativos, focados, faladores, enquanto meu filho mal fala e não quer participar das atividades. Chorei, chorei e chorei até dormir querendo achar uma resposta, um momento em que fiz algo errado e o prejudiquei. Ainda nem tenho um diagnóstico e isso me deixa ainda mais perturbada. Tenho muito o que aprender contigo Andréa! E Theozão, eu sou igual o cachorro do desenho UP: não te conheço mas já te amo! rsrsrs bjos!
Paula, não se preocupe com um diagnóstico, apenas em tratar os sintomas…. e ame muito seu filho. Também já me senti assim na escola….a minha realidade era totalmente diferentes das outras mães, mas e daí????
Andréa, que texto incrível ! Mas, estou feliz, por que eu também consegui chegar nesta conclusão, precisamos ficar bem para eles também ficarem bem.
Ler o que escreve, me coloca em contato com os meus sentimentos, e é muito bom, pois eu teimo a fugir deles…
Obrigada Andréa, vc me ajuda muito, todos os dias !
beijos
Obrigada por mais uma vez expressar o que trago dentro do meu coração. Estou vivendo a fase que você descreveu tão bem…vontade de ter outro filho para fazer tudo certo desta vez…que bom saber que não sou “louca” de pensar assim…Beijos