Li um post da Jess, do “A Diary of a Mom” e fiquei chocada. Passei um dia inteiro pensando em como dividir isso com vocês. Em 2010, houve 2 casos de assassinato de crianças autistas nos EUA. Em um deles, a mãe sufocou um bebê de 6 meses por achar que ele aparentava ser autista. Em outro, ainda pior, a mãe enforcou os 2 filhos, de 2 e 5 anos, ambos autistas. No primeiro caso, a mãe alegou que uma criança autista iria arrasar sua vida emocionalmente e financeiramente. No segundo, a mãe respondeu simplesmente: “Eles são autistas. Os dois são autistas. Eu não quero filhos autistas. Eu quero filhos normais”. Não, não é mentira. Segue a reportagem da CNN para confirmar. (Se você não entende bem o inglês, clique no “CC”).
Pausa pra respirar fundo e continuar… Conscientização sobre o autismo, nos EUA, é uma coisa que já vem de alguns anos. Talvez uns dez, pra ser mais exata. E, o que aconteceu por lá, é que isso começou na base do terrorismo. A própria Autism Speaks, maior ong do mundo sobre esse assunto, foi acusada de fazer um vídeo extremamente terrorista e melodramático, que foi usado para divulgação do autismo por algum tempo. O vídeo, entitulado de “I am autism”, mostrava cenas de crianças, com uma voz robótica ao fundo, e dizia coisas “estimulantes” como:
“Eu sou o autismo. Eu sei onde você mora. Eu moro aí também.”
“E se você tem um casamento feliz, eu farei de tudo pra que ele termine”
“Eu vou te levar à falência financeira”
“Você não pode me curar…vou te roubar dos seus filhos e dos seus sonhos”
“A verdade é que eu estou ganhando e você está assustado”
Precisa de mais? Não, não precisa. O vídeo gerou reações extremas de pais de autistas e deles próprios. Vários vídeos-resposta e até paródias foram colocados no Youtube. Os protestos foram tantos que a Autism Speaks retirou o vídeo do ar. Quero deixar claro, também, que não estou culpando exclusivamente a Autism Speaks. Eles, inclusive, fazem um trabalho maravilhoso de arrecadação de fundos para pesquisa e conscientização. E eles não foram os únicos a usar esse tipo de abordagem. Tendo dito isso, no Brasil, estamos apenas engatinhando na conscientização do autismo. Ano passado, foi feita uma campanha muito bonita nas principais capitais, com vários monumentos iluminados na cor azul para lembrar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2 de Abril). Esse ano, a divulgação deve ser ainda maior. (Se você quiser saber mais sobre isso, clique aqui). E o que eu queria que você lembrasse, de tudo isso que leu até agora, é o seguinte: tenha um cuidado especial com o tipo de divulgação que está fazendo. Já que estamos construindo a base da conscientização, que seja uma base melhor do que a que foi construída nos EUA. Não estou falando de “dourar a pílula”. De sair falando que o autismo é uma coisa maravilhosa e que nada, na vida das pessoas, vai mudar com o diagnóstico. Mas há formas mais positivas de se fazer a divulgação. Autismo, como todas as outras coisas na vida, tem pontos positivos e negativos. Sim, meu filho é autista. Sim, ele tem dificuldades em se comunicar, em brincar com outras crianças e em algumas outras coisas também. Não, meu filho não é um peso. Ele não é responsável por nada de ruim na minha vida, no meu casamento, na minha casa. Ele é um garotinho incrível, com momentos difíceis, como qualquer outra criança. E o mesmo autismo que traz essas dificuldades, também é responsável por algumas características absolutamente adoráveis que ele tem (como os beijos intermináveis que ele me dá). Ele me faz uma pessoa feliz. Não, eu não quero curar ou consertar o meu filho. Ele não está quebrado. O autismo é uma característica dele, assim como sua paixão por piscina e pipoca. Se o autismo fosse embora, o Theo que eu amo também iria. O meu objetivo é somente ajudá-lo a lidar melhor com algumas dificuldades que o autismo traz. Ponto. Devemos ter muito cuidado com o tipo de mensagem que estamos passando. E você não precisa ter um blog pra isso. Você tem amigos, tem Facebook, Twitter, email. As pessoas percebem. E vão formando suas próprias opiniões. E, se você acabou de receber um diagnóstico de autismo ou qualquer tipo de deficiência no seu filho, por favor, não se sinta sozinho. Há toda uma rede de pais para apoiá-lo nesse momento. Vamos conversar! Isso não é o fim da estrada! É o início de uma estrada nova, com algumas pedras no caminho, é verdade. Mas, também, com muitas flores coloridas e perfumadas te esperando em cada curva.
Imagem: Shutterstock
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