Vocês sabem que santo de casa faz milagre, né?! Afinal, nossos filhos passam a maior parte do tempo conosco em casa, longe da escola e dos terapeutas (e isso é o ideal, claro). E, naquelas horas de “se vira nos 30”, muitas vezes, você tem que ativar o seu lado “mãe-cientista-detetive” pra tentar entender o que está deixando a sua mocinha ou mocinho fora dos eixos.
Então, queria apresentar pra vocês duas coisas fáceis que estou começando aqui e podem dar uns insights interessantes sobre o que está ajudando ou atrapalhando nossos filhos. A primeira delas é a tabelinha do ABC do ABA (Applied Behavior Analysis).
ABC
O ABC é uma das principais ferramentas da Análise do Comportamento e pode ser usado facilmente em casa. O objetivo é descobrir a função por trás de cada comportamento analisando o ambiente e as condições em que ele ocorreu e qual foi a consequência. Isso é particularmente útil para o caso de nossas crianças que têm dificuldades de se expressar e acabam caindo nos comportamentos inadequados.
Sabemos que comportamento é comunicação. O negócio é só entendermos o que elas estão nos comunicando. O “A” do ABC é o “antecedente”. Basicamente, qual foi o cenário em que o comportamento aconteceu. O “B” é o comportamento propriamente dito (behavior). E o “C” é a consequência.
Anotando tudo direitinho, em alguns dias, já dá pra formar umas hipóteses sobre a função de cada comportamento inadequado. E, em cima disso, podemos trabalhar para que ele não aconteça, seja modificando o antecedente ou a consequência.
Olha um exemplo básico de tabelinha ABC aí:
Exemplo de tabelinha ABC pra fazer em casa
No exemplo acima, a criança fez xixi no sofá enquanto brincava no sofá com o Ipad. Em seguida, a mãe deu banho. Se esse comportamento se repete algumas vezes no mesmo cenário e com a mesma consequência, será que o banho está servindo de reforçador? A partir dessa hipótese, a mãe pode trocar o banho por lencinhos umedecidos e ver se o xixi diminui.
Sabemos que o reforço positivo mantém o comportamento. Então, devemos nos policiar sempre pra reforçar somente os comportamentos que queremos que fiquem.
Em caso de uma crise, muitas vezes, podemos agir no antecedente. Exemplo: Theo tem acordado com muita sensibilidade auditiva, que melhora ao longo do dia. Percebi que as crises vinham após qualquer barulho um pouco acima do esperado (até mesmo uma torneira muito aberta). Comecei a gerenciar os barulhos de manhã para que ele não entre em crise.
Entendido? Vamos pro segundo.
Diário alimentar
Fiz uma enquete informal ontem, na fan page, e fiquei assustada com a quantidade de crianças autistas com alergias alimentares diagnosticadas.
Não há uma estatística oficial sobre alergias alimentares em crianças autistas. Mas, pelo que eu pesquisei, elas afetam até 8% de todas as crianças até 3 anos de idade no Brasil. A alergia alimentar é, basicamente, nosso corpo reagindo exageradamente a alguma substância presente nos alimentos. Essa reação pode ser leve ou grave.
Reações comuns envolvem a pele (urticária, inchaço, coceira, eczema), o aparelho gastrointestinal (diarréia, dor abdominal, vômitos) e o sistema respiratório, como tosse, rouquidão e chiado no peito. Manifestações mais intensas, como a reação anafilática, também podem ocorrer.
Ora, se uma criança típica estiver sentindo dores abdominais por causa de constipação, vai conseguir comunicar isso aos pais. Mas nossos filhos têm dificuldades em se comunicar. Muitos ainda nem falam. E o incômodo acaba se refletindo no comportamento.
Algumas mães me relataram que seus filhos, após terem a alergia devidamente identificada e o alimento eliminado da dieta, melhoraram o sono e até o comportamento agressivo. A melhor forma de identificar corretamente as alergias alimentares (se existirem) é procurar um médico. Ele, possivelmente, fará um teste cutâneo e pedirá amostras de sangue.
Mas tem algo que você pode já ir fazendo em casa e que ajudará o médico a fechar o diagnóstico. É um pequeno diário contendo tudo o que o seu filho comeu no dia e como isso se refletiu no humor, na agitação e…no cocô. (Vida de mãe é escatológica mesmo). 😀
Aí vai o exemplo:
Diário alimentar pra fazer em casa
O importante, aí, é conseguir o comprometimento da escola para preencher direitinho. Até aquele Cheetos que o seu filho roubou do colega tem que entrar aí.
Com a tabela preenchida de uma semana, já dá pra levantar umas hipóteses. O médico vai gostar de receber esse dever de casa!
Todo mundo pronto pra virar mãe ou pai detetive-cientista? Vou querer saber um pouco da experiência de quem tentou! 🙂