Poucas pessoas entendem tão bem o terror dessa coisa chamada “corte de cabelo” quanto pais de crianças autistas. Você vai percebendo o cabelo da criança crescendo e começa a contagem regressiva para o pânico: a hora em que você não vai poder escapar e vai ter que levar seu filho ao salão. Quando o Theo tinha um aninho, levamos ele para cortar o cabelinho pela primeira vez. Ele ainda apresentava poucos sinais de autismo. Então, foi tudo muito tranquilo, como você pode ver no vídeo abaixo:
O que fomos percebendo é que isso estava ficando cada vez mais difícil. Ele chorava muito, se desesperava só de entrar no salão, se debatia, chegava mesmo a ser arranhar. Saíamos todos exaustos, limpando as lágrimas e os cabelos do rosto e das roupas.
Quando veio o diagnóstico, descobrimos que o corte de cabelo é uma das coisas mais difíceis para crianças autistas. Mas por que? Como eu já falei antes, autistas tem dificuldades sensoriais. O que significa que um simples pente na cabeça pode incomodar MUITO. Se a criança tem sensibilidade auditiva, tudo em um salão incomoda: o barulho da tesoura perto do ouvido, do secador, da maquininha de finalização, do salão cheio.
Outra coisa é que, em geral, eles não gostam de se sentir contidos e nem de contato físico com pessoas desconhecidas. E vamos combinar que não há como rolar o corte de cabelo sem tocar bastante justamente na cabeça, que costuma ser uma parte muito sensível nas crianças com autismo.
Pois bem. A Autismo & Realidade tem um manual completo sobre o corte de cabelo das crianças autistas que você pode baixar. Algumas dicas são bem legais, como molhar o pente ao invés de jogar o spray de água diretamente na criança (coisa que o Theo ODEIA).
Você também pode ver o guia da Autism Speaks aqui:
Tendo dito isso, devo contar, a vocês, que muitas das dicas não funcionaram com o Theo. Cada criança é diferente, e é aí que entra o seu grande conhecimento de pai e mãe. Nenhum especialista sabe lidar com seu filho melhor que você.
Então, o que fizemos? Decidimos tentar relacionar o corte de cabelo a coisas prazerosas pra ele. E não tem coisa mais prazerosa, pro Theo, no mundo, que PIPOCA. Ele praticamente planta bananeira por pipoca! Simples assim: antes de sairmos de casa, faço um balde de pipoca e converso com ele. Explico que vamos cortar o cabelo e que “menino que corta o cabelo bonzinho ganha pipoca”. É um suborno? Sim. Funciona? SIM. Vai funcionar com o seu filho? Não sei, sinceramente. Conheço gente que já tentou de tudo e acabou desistindo e comprando uma máquina pra cortar o cabelo do filho em casa. Mas acho que vale à pena tentar.
A minha pergunta pra você é: qual é o grande motivador do seu filho? Nem precisa ser algo comestível, mas tem que ser atrativo o suficiente para que ele tope o desafio de deixar uma pessoa estranha fazer barulhos perto de sua orelha e enfiar a mão em seus cabelos.
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