Normalmente, quando lemos alguma matéria sobre autismo, todos os sinais de alerta citados se referem ao bebê:
O bebê é calmo demais ou agitado demais
Prefere o berço ao colo
Não faz contato visual na hora da amamentação
Não levanta os bracinhos para ser pego no colo
Apresenta atrasos motores (não senta na época certa, demora a andar)
Não começa a balbuciar aos 6 meses.
É verdade que muitas crianças autistas apresentam esses sintomas desde cedo, mas pouco é falado sobre as crianças que se desenvolvem em um ritmo normal e, de repente, começam a perder as habilidades adquiridas. É o chamado “autismo regressivo”.
As causas concretas do autismo ainda são foco de profundos estudos. Vários genes e mutações já foram identificados como relacionados ao transtorno e acredita-se, também, em causas ambientais, principalmente as ligadas ao ambiente intrauterino.
O autismo regressivo é ainda mais misterioso. O que leva uma criança, que aparentemente está se desenvolvendo no ritmo normal, a se “tornar autista” entre o primeiro e o segundo ano de idade?
Alguns médicos acreditam que, nessa época, o cérebro passa por um “processo de autolimpeza” chamado de “poda neuronal”. Nesse período, se a criança tem a propensão genética ao autismo, é aí que ele pode se manifestar.
Outra teoria, mais ligada ao sistema imunológico, diz que qualquer grande infecção (como uma virose, por exemplo) pode “despertar o autismo” em um bebê já propenso geneticamente.
Meu objetivo aqui não é discorrer sobre as causas do autismo regressivo. Mas como estar atenta e identificar os possíveis sinais em uma criança.
Tenho um exemplo vivo em casa…vivo, sorridente, beijoqueiro e muito lindo: o Theozão. Theo se desenvolveu normalmente até o primeiro aninho, quando começou a perder habilidades. Quando eu digo que se desenvolveu normalmente, não é delírio da minha cabeça de mãe. Vejam, só, os vídeos a seguir:
1) Theo começando a falar “papa” aos 5 meses. Vocês podem notar, também, o contato visual dele nesse vídeo!
2) Theo falando “mamã” aos 6 meses:
3) Theo “piscando” aos 9 meses. Além da própria imitação em si, esse vídeo traz algo que um bebê autista, geralmente, não faz: o “compartilhar”. Vocês podem notar isso quando ele ouve o barulho do avião passando e olha para a varanda. O pai, que está filmando, fala “o avião”. Ele imediatamente olha para o pai para compartilhar o que viu.
4) Mais um de imitação: Theo imitando tosse aos 9 meses.
5) Para terminar, Theo batendo palminhas, também aos 9 meses. Nesse vídeo, ele também “compartilha”. Notem a troca de olhares dele com o pai e comigo.
Ou seja: a criança dos vídeos acima não parecia autista, certo? Difícil saber a resposta. O que sabemos é que o comportamento dele começou a mudar muito perto do primeiro aninho.
Theo ficou mais sério e introspectivo
Passava horas deitado no chão olhando para as rodas do carrinho
Não olhava quando era chamado pelo nome
Não apontava para o que queria e não olhava para onde apontávamos (o famoso “compartilhar”)
Parou de dar tchau e bater palminhas
Não se interessava por outras pessoas e crianças
Não seguia comandos verbais simples (como “pegue o brinquedo”)
Aqui tem um vídeo dele com 1 ano e 3 meses, no auge dos sintomas:
O que eu considero mais complicado do quadro de autismo regressivo é que uma criança que nunca faz nada (nunca falou, nunca deu tchau) é muito mais fácil de notar. Já uma criança que fazia tudo e, de repente, para, confunde a todos. Lembro-me das perguntas da pediatra quando fomos questioná-la sobre o laudo preocupante da escola, pouco antes dele fazer 2 anos: “Ele bate palmas?”. E a minha resposta foi “ele batia, mas faz tempo que eu não vejo ele fazer isso. Será que é por que a gente não pede mais?”. O texto ficou longo e sei que é muita coisa para pensar. Então, se você puder guardar só uma coisa, que seja essa:
Qualquer perda de habilidades em qualquer idade da criança deve ser investigada!
Após os quadros especiais sobre autismo do Fantástico, muitas pessoas têm me procurado para dizer o mesmo: “Nossa, que bom que o Theo não é grave como aquelas crianças que apareceram no Fantástico!”. A minha resposta tem sido só uma: “Ele poderia estar até pior…SE não tivesse tido o diagnóstico aos 2 anos e feito intervenção precoce intensiva desde essa época”. Eu continuo achando que pecar pelo excesso é melhor…
Nota: algum tempo depois de escrever este post, cheguei à conclusão de que o autismo do Theo não foi “tão regressivo” assim. Alguns sinais indicam que ele já nasceu autista, embora o quadro tenha piorado bastante com o tempo. Não deixe de ler este post posterior: http://lagartavirapupa.com.br/quando-a-gente-se-engana/
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