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Como você escolhe a escola do seu filho?


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Vamos falar um pouco de duas pessoas: Joana e Adriana. Joana é mãe do Pedro, que tem 2 anos e, agora, vai ser matriculado no Jardim de uma escola. Joana começou uma pesquisa intensa acerca das escolas da vizinhança. Ela gostaria que o trajeto de casa para a escola fosse o mais curto possível.

Após descobrir quais escolas ficam na sua área de residência, Joana entrou nos sites de cada uma para ter uma primeira impressão. De cara, já eliminou algumas cujo site era muito mal feito ou com poucas informações. Enviou um email pelo formulário “contato” das escolas restantes e agendou uma visita em cada uma. Visitas feitas, mais dúvidas. Uma se diz comportamentalista, a outra construtivista, e uma última é montessoriana.

Joana quase enlouqueceu e decidiu apelar para os grupos maternos do Facebook. Perguntou às outras mães qual era a melhor filosofia de ensino, quais foram as experiências de cada uma, e tentou tomar uma decisão com base nisso e em algumas leituras que achou na internet.

Por fim, a última dúvida: escola bilíngue? Para uma criança de 2 anos? Seria realmente benefício? Joana optou pela escola bilíngue montessoriana que fica a 10 minutos de carro de sua casa. Pedro é uma criança de 2 anos com desenvolvimento típico.

Agora, vamos falar de Adriana. Ela me mandou esta mensagem hoje pela manhã:

“Andrea, não sei se estou pedindo ajuda ou apenas desabafando contigo. Como já mencionei em mensagem anterior, estou tirando meu filho da escola. Ela foi vendida e não gostei da proposta pedagógica. Comecei a buscar escolas, mas por ele ser autista disseram que ele precisaria ser avaliado para estipular o valor da mensalidade de acordo com o grau dele de autismo, das dificuldades. Na primeira, seria entre R$ 2600 a R$ 4000 por mês, e a segunda de R$ 1200 a R$ 2800 por mês. Sendo que a matrícula “normal” em ambas gira em torno de R$ 700,00. Fui conversar com uma advogada especializada em atender deficientes. Ela tem um filho autista que estuda hoje em uma escola de São Pualo. Ela disse que as escolas “podem e não podem” fazer isso. Que só mesmo partir do ano que vem, com a lei de inclusão, serão devidamente punidas se cobrarem valores diferenciados para casos de inclusão. Continuei minha busca por escolas relativamente perto da minha residência e acessíveis financeiramente. As que não alteram o valor me disseram que só aceitam 1 aluno de inclusão por sala, por grupo. E uma já disse que a sala que o Alê iria – de 3 a 6 anos (escola montessoriana) – já tem um aluno de inclusão e que provavelmente não terá vaga pro Alê. A escola é sensacional, eu amei, mas provavelmente não terá vaga. A outra, vou amanhã conversar. Confesso que não imaginei que seria assim. Já trabalhei em escola, sei que é complicado, mas ninguém abraça a nossa causa! Parece que preciso mendigar para aceitarem o Alê ou colocar onde não gosto se lá tiver vaga. Não tenho o direito de escolher a ESCOLA que acho bacana pro meu filho! Seria um sonho se o governo pudesse ajudar essas escolas, ter um incentivo à inclusão, verba, sei lá, mas que não nos fosse negado o direito de escolher onde colocar nossos filhos! Aí você briga, grita e, caso consiga, você colocaria seu filho nessa escola? Não! Buscamos um lugar acolhedor, que o respeite na sua singularidade, na sua essência, e que possa estimular e promover seu desenvolvimento acadêmico. Me sinto desrespeitada, humilhada e discriminada! Ele não tem culpa por ser autista e deveria ter o mesmo direito que todos a educação! E essas escolas são escolas conhecidas, famosas … Enfim… Desabafei. Só queria compartilhar a injustiça que vivo. Ainda não arrumei escola para ele!”

Joana é um personagem fictício que representa a maioria das mães de crianças típicas de classe média ou superior. Adriana não é fictícia. Ela existe. E representa a maioria absoluta das mães de crianças autistas ou com outras deficiências.

Ambas pagam impostos. Os filhos de ambas, segundo a constituição e a Declaração de Direitos Humanos, têm os mesmos direitos. Mas só a Joana e as outras mães que ela representa podem escolher a escola dos filhos. Adriana e as outras mães de crianças com deficiências têm que procurar, rezar, e esperar “serem escolhidas”. São muitas portas na cara nesse processo.

Como você escolhe a escola do seu filho? Como a Joana ou como a Adriana?

Se é como a Joana, saiba que você é privilegiada. E, agora, você também sabe que a escola do seu filho, provavelmente, está deixando de fora várias crianças como o Alê da Adriana. Começar a se importar com isso pode ajudar a mudar o cenário.

Empatia é saber se colocar no lugar do outro. É se importar. Você se importa? Já bateu um papo com o diretor da escola do seu filho e questionou qual a postura deles quanto à inclusão? Sabia que a inclusão de verdade é boa para ambos os lados? Leia um pouco mais AQUI.

Devemos cobrar o governo sempre. Mas a sociedade mobilizada faz muita coisa acontecer. A mudança de mentalidade transforma cenários. Que as Adrianas possam contar cada vez mais com as Joanas. Só assim seremos iguais perante a lei de fato, e não só no papel.

(Os conteúdos produzidos por Andrea Werner e disponibilizados neste site são protegidos por copyright e não podem ser reproduzidos, total ou parcialmente, sem autorização expressa da autora, mesmo citando a fonte)

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