Eu e meu pai querido
Uma linda história sufi:
“Um rei estava fazendo um anel de brilhantes e pediu aos sábios da corte que dissessem uma frase curta para que ele guardasse dentro do diamante e pudesse ler em um momento de desespero. Um sábio deu-lhe um pequeno papel, dizendo que havia recebido de um homem santo, mas disse ao rei que ele só poderia abrir o papel quando estivesse em profundo desespero. O reino foi invadido, e quando tentava fugir dos inimigos, o rei perdeu seu cavalo e quando estava encurralado, leu a frase: Isso também vai passar! Imediatamente, uma paz indescritível tomou conta do rei e ele lutou para reconquistar seu reino. Na entrada, foi recebido pelos súditos com uma grande festa e sentiu-se muito orgulhoso. Enquanto sua carruagem era acompanhada por músicos e pessoas de todos os lugares para saudar o rei, o sábio que dera o anel, apareceu e disse que ele deveria ler a frase. Mas, agora sou vitorioso, não estou desesperado e não preciso ler a frase, disse o rei. Leia a frase, pediu o sábio e o rei abriu o anel e leu: Isso também vai passar… O rei compreendeu que assim como os momentos ruins, os momentos bons também passam… E o sábio disse: Tudo passa. Apenas você permanece.” (créditos: blog Yoga na Vida)
Acabo de deixar o Theo na escola. Uma ventania invade as ruas, levanta as folhas do chão, já caídas há tempos, e arranca, sem piedade, as poucas que ainda se agarravam às árvores, já quase totalmente expostas. É um espetáculo lindo de ser ver: o som do vento é a sinfonia. Seu sopro é um maestro imprevisível que comanda essa dança descompassada das folha marrons, amarelas e laranjas. E os galhos marrons e nus das árvores parecem se esticar para tentar recuperar as últimas folhas perdidas para a ventania.
Chego em casa e continuo assistindo a esse show de jazz pela janela. Estamos nos últimos dias do outono. O inverno começa, oficialmente, no dia 21 de Dezembro. Não é difícil me lembrar do cenário quando cheguei, há mais de dois meses: as árvores estavam lindas, cheias de folhas coloridas em tons de terra, enquanto alguns poucos montinhos delas já se acumulavam pelo chão. E esse cenário passou. Foi embora junto com toda a situação difícil que passamos com a mudança: Theo ainda sem escola, ficando grande parte do tempo sem suas atividades estruturadas, sentindo falta da rotina, dos avós, da babá…
Passou junto com todo o comportamento complicado que ele demonstrou nesse período, apenas consequência de tantas mudanças: muito mais intolerante, explosivo, arremessando objetos em suas crises de raiva e frustração e perdendo a paciência com qualquer minúsculo “não”.
Passou, inclusive, a estadia do meu pai por aqui. Um vovô muito querido, com quem Theo tem uma relação especial desde que nasceu, e que veio me socorrer ao ouvir minha voz chorosa no Skype. Derramamos lágrimas juntos algumas vezes, rimos juntos outras várias, vimos a situação ir melhorando…passando. Esse vovô nunca vai ter a real dimensão de como salvou minha vida nesse período!
Uma relação muito especial…
Passou, também, um dos maiores sustos que já levei como mãe: ver meu filho se queimar com água quente na cozinha. Olhar para ele, que chorava e tremia, tentando entender o tamanho do estrago e perceber que a pele da testa dele derretia e escorria. Nenhum filme de terror que eu já tenha visto poderia chegar perto disso. Demorou uns dias pra eu me recuperar…mas também passou. E, com menos de 2 semanas, passaram, também, as enormes feridas que ele fez em seu rostinho tão lindo.
Theozão: nosso Wolverine
Passaram, também, os mais de 2 meses sem escola. Theo, agora, tem seu cantinho, seu ganchinho para pendurar o casaco, uma professora dedicada e muitas, muitas atividades maravilhosas pra fazer!
Um sonho realizado
A dança das folhas vai passar. A neve vai chegar. E também vai passar. Meu momento atual de calmaria vai passar.
Mas, assim como na historinha do rei, nós continuamos. E, com lágrimas, risadas, companheirismo, MUITO amor e MUITA paciência, descobri que conseguimos sobreviver a tudo o que passa.
E, se isso serve pra mim, serve pra vocês também. 🙂
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