“Aquele que não luta pelo futuro que quer, deve aceitar o futuro que vier”.
~ Desconhecido
Acabei de voltar de mais uma viagem a Londres, onde estive visitando escolas. E, mais uma vez, voltei encantada com o que presenciei.
Não é à toa que a educação no Reino Unido é considerada uma das melhores do mundo. As escolas públicas que visitei me pareceram, na maioria das vezes, melhores que as particulares e caras no Brasil.
Já detalhei como funciona a educação para crianças com necessidades especiais nesse post AQUI.
Mas, retomando alguns pontos, todas as escolas que visitei eram regulares, mas tinham um pequeno centro para atenção dedicada às crianças com autismo (ou outras necessidades especiais). E é nesse pequeno centro que elas recebem apoio 1 a 1, personalizado, juntamente com o conteúdo pedagógico que não conseguem assimilar na sala regular, e todas as terapias necessárias para o seu desenvolvimento. Elas ficam o máximo do tempo possível com as crianças típicas e só fazem separadas, nesse centro, o que é estritamente necessário.
As professoras que trabalham com educação especial têm que ter especialização ou pós nesse sentido. Todas, além disso, recebem treinamentos da NAS, a maior ONG de autismo do Reino Unido. O objetivo principal dessas professoras – que ouvi várias vezes – é fazer com que as crianças passem, definitivamente, para a parte 100% regular da escola.
Meu objetivo, aqui, não é discutir se isso é a forma ideal de inclusão, se é só integração, ou o que quer que seja. O fato é que fiquei extremamente impressionada com o funcionamento do sistema.
É na escola que as crianças autistas recebem Terapia Ocupacional, Fono, Musicoterapia e, em alguns casos, até Hidroterapia e Equoterapia. TODAS, sem exceção, possuem salas sensoriais.
Aliás, a NAS (National Autistic Society) considera o autismo com o comprometimento básico de 4 áreas: o comportamento, a interação, a comunicação e o sensorial. Pra mim, faz muito sentido!
hidroterapia e equoterapia na escola? Aqui, tem!
The Peartree Centre para crianças autistas, funcionando dentro da Stanley Primary School.
Mas por que eu estou falando tudo isso?
(a) pra me exibir
(b) pra deixar todo mundo com raiva
(c) pra fazer a gente repensar pelo que devemos lutar no Brasil.
Opa! Espero que todo mundo tenha pensado na alternativa c! 🙂
Viram a frase com a qual eu iniciei o post? Devemos lutar pelo futuro que queremos! NADA do que há em Londres, nesse sentido, veio de graça! As pessoas se organizam, cobram, pedem a aprovação de leis e exigem o cumprimento delas.
Acontecem embates famosíssimos no Parlamento britânico! Há uma noção real, nos países desenvolvidos, sobre o papel do político: ele é alguém que está ali a serviço do povo. É alguém que foi colocado ali como representante de milhões de pessoas, e deve lutar pelos interesses de quem o elegeu.
Aqui no Brasil, infelizmente, ainda há a noção de que o político é alguém intocável, quase um coronel. E que, quando ele faz algo bom, devemos ser gratos pelo resto da vida. Gente, sinto muito: político fazendo algo bom para a população não faz nada mais do que a sua obrigação! É para isso que ele foi eleito! E é para isso que pagamos seu salário! De onde veio essa noção de que político não pode ser cobrado?
Nos Estados Unidos, quando as pessoas querem muito a aprovação de uma lei, se acorrentam na frente da casa do político. Fazem greve de fome na calçada dele. E as coisas acontecem!
Há alguns meses, quando fomos fazer uma campanha, no Facebook, para tentar impedir a queda de um veto à Lei de Amparo ao Autista, porque ela abria brecha à exclusão escolar, fomos massacrados por alguns pais! “Não se deve falar mal da deputada! Isso é um absurdo! Ela nos ajuda tanto!”.
As pessoas precisam aprender a separar “criticar as ações” de “criticar a pessoa”! Nossa mobilização deu certo, o veto não caiu, e provamos que a união faz a força, coisa que já se sabe há muito tempo em países mais desenvolvidos.
As mobilizações recentes nas ruas também mostraram que a pressão popular gera efeitos. A tarifa do ônibus não subiu, a PEC 37 foi derrubada. Será que estamos entendendo essa relação causa/efeito, finalmente?
Cidadania é isso: escolher o seu representante democraticamente e com consciência. E cobrá-lo para que ele faça bem o seu serviço. Para que os seus impostos sejam bem aplicados.
Quanto custam as escolas de Londres (com tudo isso que eu citei)? O imposto que os cidadãos britânicos pagam todos os meses. E que não é pouco! É algo em torno de 40%. Mas isso tudo vira transporte, saúde e educação de qualidade.
O que tem sido feito com os seus impostos aqui? Se você não tem condições de custear um tratamento particular para o seu filho especial, como o governo tem te ajudado? Que tipo de suporte a rede pública tem dado a você?
Com um protesto simples no Facebook, conseguimos manter um veto na lei. Com o povo indo às ruas, várias outras conquistas têm surgido. Toda a mobilização recente mostra que vale a pena lutar.
Estamos organizados para isso? Está na hora de começar! Para encerrar, um diálogo recorrente que tive nas escolas de Londres:
– “Estou impressionada com o que vejo aqui. Vocês têm noção da riqueza disso tudo? De como é lindo o seu sistema educacional?”
– “Não somos perfeitos aqui. Ainda há muito o que melhorar. E é pra isso que as pessoas continuam lutando”.
Se você quiser ver o prospecto com todas as escolas da região que eu visitei e seus recursos, clique AQUI.
Comentários