“As melhores coisa na vida são inesperadas – justamente porque não havia expectativas.” ~ Eli Khamarov
Desde o diagnóstico de autismo, temos aprendido a ter menos expectativas e a viver um dia de cada vez. E o melhor disso tudo é que, com menos expectativas, as surpresas se multiplicam. Vou resumir as principais surpresas que tivemos ultimamente porque, se for contar todas, o texto vai ficar longo demais! Na escola, várias novidades. No início de 2011, Theo teria que começar a levar uma mochila de rodinhas. Eu e o pai dele tínhamos certeza de que ele nunca puxaria aquela mochila…e que teríamos que carregar pra ele. Afinal, ele ainda estava iniciando sua melhora na parte de seguir instruções. E não é que, logo na primeira semana, ele pega a mochila, sozinho, e sai puxando? E, pra completar a saga da escola: estávamos morrendo de medo de colocar ele pra ir de van. Ele não vai muito bem com quem não conhece e já imaginávamos ele chorando o caminho inteiro. Pois bem. Ele NUNCA chorou na van. Ia bonitinho com a moça, quietinho e felizão.
Theo puxando sua mochila e entrando na van
Até julho do ano passado, logo após fazer três aninhos, Theo ainda usava chupeta para dormir. E a gente sempre se preocupava em como seria tirar esse hábito, já que autistas têm mais apego à rotina. Enquanto nos preocupávamos com isso, Theo decidiu, sozinho, que não precisava mais da chupeta para dormir. E ela foi arremessada para o outro lado do quarto. Outra mudança grande, que nos surpreendeu, foi a rotina da hora de dormir. Aliás, tudo o que se chama “rotina”, para uma criança autista, é muito mais difícil de mudar. Eu chegava do trabalho, normalmente, às 19:30. Às 20:30, ia para o quarto do Theo, com ele, e ficava lá até ele dormir. E isso demorava, no mínimo, uma hora. Cheguei a ficar duas horas lá, no escuro, desconfortável, esperando ele dormir. Resolvi dar um ponto final nessa história e pedi ajuda às terapeutas. A sugestão não foi fácil: usar método “Super Nanny”. Pra quem não conhece, é aquele método em que você coloca a criança na cama, dá boa noite e sai do quarto. Se ela fugir, você a devolve pra cama…quantas vezes forem necessárias. Sinceramente, achei que isso nunca iria funcionar, justamente por ele ser tão apegado à rotina de me ter no quarto na hora de dormir. Tive três noites cansativas, devolvendo ele para a cama entre 3 e 8 vezes. Na quarta noite, apaguei a luz, saí do quarto e…ele ficou! E dormiu sozinho! Acho que a coisa em que ele mais nos surpreendeu foi a retirada da fralda. Isso era outro pesadelo que nos assombrava. E, o maior motivo disso é que ele não avisa quando quer fazer xixi ou cocô. A gente percebia quando ele ia fazer cocô porque se abaixava…e corríamos com ele para o vaso. Resolvemos encarar o desafio. Fomos orientados, pelas terapeutas, a colocá-lo no vaso a cada meia hora, no início. Para resumir, tivemos vários acidentes no primeiro dia. Uns três no segundo. E só um no terceiro. E voilá! Nenhum acidente! Ele, simplesmente, passou a ir ao banheiro sozinho quando tem vontade. Tira o short e a cueca, sobe em seu banquinho e resolve o problema! Fralda, atualmente, só pra dormir! Tem, também, a piscina…aaaaah, a piscina! Theo sempre foi louco por água! Por isso, assim que entrou o verão, começamos a descer para a piscina todos os dias. Um dia, enquanto eu o vigiava, ele, do nada…mergulhou! Quase morri, caí pra trás, isso tudo. Corri pra socorrê-lo e ele levantou com aquela cara de sapeca. Ele descobriu, sozinho, que precisa prender a respiração para mergulhar. E começou a brincar de apnéia! Já vi o Theo ficar sete segundos submerso e levantar numa boa. Foi um bom teste para o meu coração. Porque, agora, ele também está pulando na piscina. E adora quando eu o jogo. Do jeito que caiu, levanta. Ele se vira. Fico muito orgulhosa!
Também temos rido muito com as novas utilidades que o Theo dá para objetos e brinquedos. Isso faz parte daquele “pedacinho da pupa” que a gente quer que ele mantenha, sempre! Que tal inventar uma nova forma de balançar no cavalo? E transformar uma bóia em sofá?
Ele descobriu que, assim, é mais divertido!
Confortável em seu sofá-bóia
E, por aí, vai. A última que ele aprontou, percebi há dois dias. Quando coloco ele no quarto para dormir, e ele ainda está meio agitado, às vezes, foge para o seu banheirinho. Pra cutucar o azulejo, tentar subir na pia, essas coisas. O que eu comecei a fazer foi colocar um banquinho de madeira barulhento na porta do banheirinho dele. Assim, se ele empurrar o banquinho para entrar no banheiro, eu escuto, da sala ou do meu quarto, e vou levá-lo, novamente, para a cama. Isso funcionou por dois dias. Pois bem: no terceiro dia, ele entendeu que estava sendo descoberto pelo barulho do banquinho. E já aprendeu a desviar do banquinho e entrar no banheiro sem fazer o menor barulho. Descobrimos isso porque, anteontem, Leandro abriu a porta do quarto – quando Theo já tinha dormido – e deu com a porta do banheiro aberta, com o banquinho lá, no mesmo lugar. São tantas coisas que não cabem aqui. Mas isso tudo é só um exemplo de como é melhor vivermos com menos expectativas. E viva as pequenas surpresas do dia a dia! (Acho que vou ter que fazer um post desse por mês!)
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