Toda mãe de criança com deficiência vive esta situação que vou relatar pelo menos uma vez por semana.
Tudo começa com um cenário corriqueiro: o supermercado, o shopping, a rua. Pra gente se situar melhor, vamos pegar o supermercado como exemplo. Você está ali, dividindo sua atenção entre seu filho e a escolha dos tomates, quando, de repente, escuta uma voz de criança dizendo “mamãe, por que ele usa coleira?”. A frase também varia dependendo da situação do seu filho ou filha ou do cenário. Pode ser “mamãe, por que ele baba?”. Ou “mamãe, porque ele faz tanto barulho?”. Variações do mesmo tema. Você se vira em direção à voz e vê, ao mesmo tempo, uma criança apontando na direção de vocês e uma mãe desesperada, puxando-a na direção contrária, ralhando com ela, tentando até tampar sua boca. E pode até ouvir frases como “não diga isso!”. Ou “falamos disso em casa”!
Pois eu preciso dizer que isso não precisava ser assim. Crianças até uma certa idade não têm filtro mesmo. São curiosas a respeito de todo tipo de novidade. Tudo é interessante para quem está, ainda, descobrindo o mundo. E os pais são a referência para qualquer tipo de dúvida. É normal elas perguntarem. Noções de etiqueta – como não apontar e falar certas coisas – podem ser dadas aos poucos, mas acredito que há saídas melhores pra esse tipo de situação.
1. Em primeiro lugar, não saia correndo com a criança.
Quando você faz isso, parece que meu filho tem algo contagioso. Parece que não devíamos estar no mesmo espaço. Isso aumenta a sensação de separação que já temos com relação aos pais de crianças típicas (em menor ou maior grau). E o pior: você está passando para o seu filho a mensagem implícita de que ele deve se afastar ou ter medo de pessoas com deficiência (ou diferentes). Não fuja. Tolere o seu desconforto e tente fazer desse limão uma limonada.
2. Peça desculpas se achar que seu filho foi rude.
Alguns comentários espontâneos podem machucar mesmo sem a intenção. Se você acha que esse foi o caso, diga “Me desculpe. Meu filho estava curioso a respeito do seu filho e não soube se expressar bem”.
3. Apresente-se e diga oi à mãe e à criança. Encoraje seu filho a fazer o mesmo.
Isso já vai mostrar a ele que todos estamos no mesmo barco, somos pessoas, temos nomes. Demonstre interesse pela criança com uma frase curta como “oi, sou a Carla! Como você se chama?”. Mesmo que a criança não responda, provavelmente, a mãe vai responder. E você já quebrou o gelo aí.
4. Ache algo em comum para mostrar ao seu filho que ali há só outra criança.
Comentários aleatórios como “olha, filho, que carrinho legal ele tem” ou “filha, o tênis dela é de princesa como o seu” já ajudam a estabelecer essa similaridade. Afinal, criança é criança. Com ou sem deficiências, há várias coisas em comum, e é isso que você deve ressaltar.
5. Depois, em particular, converse sobre diferenças de forma positiva.
Explique a ele que todos somos diferentes. Há pessoas de todas as cores, pessoas que precisam de óculos, pessoas que andam em cadeiras, pessoas que falam e que não falam. Diga que está tudo bem se ele notar a diferença no outro, mas que alguns comentários, principalmente relativos à aparência das pessoas, não devem ser feitos na frente delas para não magoá-las. E que todo mundo, independente da aparência, quer ser aceito e respeitado.
6. Tire a dúvida dele se for possível. Quando estiverem sozinhos, você pode tentar explicar ao seu filho a condição da outra criança de uma forma positiva. “Filho, algumas pessoas andam com as pernas, e outras precisam da cadeira de rodas para andar”. “Filho, ele faz barulhos porque ainda não aprendeu a falar. Então, ele faz barulhos para mostrar se está feliz ou triste”. E, para terminar, que tal pensar um pouco na diversidade com a qual seu filho convive? Mesmo que o seu círculo pessoal não seja lá muito diverso, sempre há vídeos, livros e situações em que você pode expô-lo à diversidade de forma positiva. É um exercício que vale a pena!
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Foto: Shutterstock
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