O mundo muda rapidamente. Algumas vezes para melhor, outras, nem tanto. E, pra falar a verdade, andou mudando mais rápido do que eu imaginava em um sentido: a representatividade das chamadas “minorias” na mídia. Hoje, posso dizer que eu vivi para ver o primeiro bebê Johnson’s com Síndrome de Down!
Há 2 anos, escrevi um texto aqui no blog que teve muita repercussão. O nome dele? “Parabéns para a mãe que a mídia não mostra“. Nele, um desabafo: nós, mães de crianças com deficiências, nos sentimos invisíveis em uma data tão comemorativa – e comercial – quanto o Dia das Mães. Parece que não consumimos. Não nos vemos representadas. Aquilo que brilha na TV não é pra nós. E, muitas vezes, ao invés de nos emocionarmos com os comerciais feitos sob medida para a data, sentimos é rejeição.
Quando ouvimos de um médico que nosso filho tem Síndrome de Down – ou autismo, ou qualquer outra condição que afete o desenvolvimento -, sentimos como se fôssemos separadas das outras mães. A partir daquele momento, não somos mais “mães”. Somos chamadas de “mães especiais”. Não vamos comemorar os marcos do desenvolvimento no tempo adequado, não vamos conversar sobre as mesmas questões com a professora da escola, não vamos simplesmente levar o filho ou filha pro balé ou o inglês. Aliás, reuniões de pais na escola, muitas vezes, viram tortura. É ali que, com frequência, fica clara a divisão do “nós” e “eles”.
Somos alvo do tratamento com condescendência e das frases prontas: “você foi escolhida por Deus”, “você é especial”. Sim. Acredito que somos tão especiais que devemos consumir sabão em pó vindo de outra galáxia. Nosso filhos são tão angelicais que só tomam iogurte preparado pelas freiras no alto do Everest. Deve ser por isso que nunca nos vimos retratadas na mídia.
E somos excluídas só como consequência de algo muito pior: nossos filhos foram excluídos primeiro. Ouvi de uma pessoa, em algum momento da vida, que “ninguém quer ver criança com deficiência na propaganda”. Será que ainda é assim?
Nos anos 80, quando eu era criança, não convivi com nenhuma criança com Síndrome de Down, que era tão estigmatizada quanto o autismo. Essas “crianças especiais” – que, na época, eram chamadas de adjetivos péssimos – não frequentavam as escolas regulares. Não frequentavam os restaurantes. Não saíam nas ruas. A visão do determinado como “imperfeito” incomodava, tirava a paz de muitos. O diferente era visto como algo ruim ou até ameaçador.
Nossos filhos são desumanizados e pasteurizados. Todos são “anjos”. Todos viram “eles”. “Eles são tão carinhosos, né?!”. Quem nunca ouviu isso?
Mas eu não disse que o mundo muda rápido? A estrada da inclusão começou a ser pavimentada pelos pais das crianças com Síndrome de Down. Quem não se lembra deste comercial lindo do final dos anos 90? Ele foi criado para o Instituto MetaSocial, também pela DM9 (que fez o comercial da Johnson’s).
O movimento pela valorização da diversidade, pela representatividade e inclusão social cresceu muito nos últimos anos. Amparados por leis, como a que proíbe as escolas de recusarem a matrícula de crianças com deficiências, os pais têm feito um barulho considerável, que aumentou de alcance com o crescimento das redes sociais. E, mais recentemente ainda, adultos com Síndrome de Down, autismo e outras deficiências, têm falado por si tanto na TV quando na internet.
Novos tempos…publicidade antenada? Até ontem, eu achava que não. Até que abri o Facebook hoje cedo e dei de cara com a página de um grande jornal mostrando o novo bebê Johnson’s: o Lucca, lindo e sorridente. Um pouco mais tarde, veio o comercial. E foi aí que eu literalmente caí em lágrimas.
Lucca tem Síndrome de Down. Temos um bebê Johnson’s com Síndrome de Down! Temos um bebê “dos nossos” em um baita comercial de Dia das Mães de uma marca incrível! Nossos filhos estão representados nesse comercial! Nós, mães de crianças com deficiências estamos representadas neste comercial! “Para nós e para todas as mães, todo bebê é um bebê Johnson’s”.
Muitas amigas choraram também. Muita gente emocionada, se sentindo representada, vendo os filhos saírem do limbo conveniente onde a sociedade os manteve por tanto tempo.
Nossos filhos existem! Nós existimos! Representatividade importa!
Para nós, esse foi um marco na publicidade. E aguardo, com ansiedade, todas as ondas que vão vir dessa pedra que foi atirada no meio do lago!
P.S: quer ver mais do Lucca? O instagram dele é @lucca_encantado !
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