“Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar quando eu me encontrar”
~ Cartola
Ano passado foi muito intenso. Nos estabelecemos de verdade aqui na Suécia, vimos as quatro estações virem e voltarem, Theo se adaptou muito bem à escola e ao lugar. Nos adaptamos, melhor, também, às muitas viagens do marido, ao jeito de ser direto e reto dos suecos, à nossa rotina e vida por aqui.
2015 foi ano de correr atrás de mais informações sobre o meu filho. Fiz um exame genético com o “cuspe” do Theo. Em (super) resumo, ele mostrou algumas mutações importantes. Existem algumas correntes com relação ao que fazer nessa situação. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão.
Também fomos a um famoso gastro no Rio de Janeiro. Uma entrevista com ele circulou bastante nas redes sociais. Tirando a parte em que ele fala de “cura do autismo” (coisa que não me convence), achei que ele seria bem qualificado para verificar se o Theo tem alergias alimentares. Imaginei que alergias alimentares severas pudessem estar agravando o quadro de autismo do meu menino. O exame detectou algumas alergias, mas todas “discretas”. Mudo toda a dieta dele com base nisso? Ainda não cheguei a nenhuma conclusão.
Se tem uma coisa que o meu TDAH me traz de muito ruim é o “congelamento” quando me vejo exposta a excesso de informações. E é por isso que estou buscando meu diagnóstico oficial aqui na Suécia, processo longo e lento que iniciei no ano passado. Quem sabe aqui eles conseguem me ajudar, de alguma forma, a otimizar esse funcionamento cerebral meio truncado que eu tenho?
Desde agosto de 2015, surgiu, por aqui, um novo desafio: Theo está com medo do escuro. Sabe aquele pavor que temos de que nossos filhos puxem certas características nossas? Pois é. Dei muito trabalho pra dormir quando era da idade dele. Tenho terror noturno. Já assustei muitas pessoas que dormem ao meu lado com meus pânicos de “tem alguém no quarto” ou coisa parecida. E, antes que me venham com explicações de cunho religioso, não. Nenhuma me convenceu. É terror noturno mesmo!
Pois, voltando ao Theo. Começa a dormir em torno de 20:30. Lá pela meia noite, sai correndo do quarto e pula na nossa cama. As nossas tentativas de levá-lo para a cama, há mais de 6 meses, não têm surtido efeito. Ele volta pra nossa cama quantas vezes acordar de madrugada. E, se insistimos para que ele fique na dele, começa a fazer xixi como escape, desiste de dormir e, no final, ninguém dorme.
Há três noites, Leandro o pegou dormindo de luz acesa no quarto. E como dói ver que meu menininho está, provavelmente, passando pelo mesmo que eu passei na idade dele…como dói saber que nada do que os meus pais me falassem naquela época adiantava! Como posso ajudá-lo se não consegui ajudar a mim mesma até hoje nesse sentido?
2015 também foi um ano de aprendizados de ordem prática: aprendi a ler os números do blog e o que significa “estar bem indexada no Google”. Aprendi que meu blog tem muitos acessos, mas é de nicho. Um nicho super especial do qual eu cuido com carinho. E que não vou expor a qualquer coisa ou propaganda só para fazer um dinheirinho. E, vejam só a ironia: as coisas legais, pelas quais genuinamente me interesso e até faria propaganda, preferem anunciar em outros blogs mais genéricos, justamente porque vêm o meu como nicho.
Mas, ao mesmo tempo, o blog é um trabalho e dá trabalho. Alguns posts exigem uma boa pesquisa prévia. E demanda tempo e dinheiro (inclusive para manutenção). Por isso, um desafio para 2016 é entender melhor como posso ganhar algum tipo de salário com ele, que é o que faço de melhor. Afinal, só o marido, aqui, trabalha como um louco pra garantir a aposentadoria de três pessoas. Preciso (PRECISO) achar uma forma de contribuir com isso. Continuo queimando neurônios com esse assunto.
O fluxo de leitores aumentou e o de mensagens também. Coloquei mais duas moderadores na fan page do Facebook (minhas amigas Jôse Santana e Nanci Costa). Mas, muitas vezes, as mensagens são pessoais. Tem que ser eu, ali, respondendo. Nem sempre eu consigo. Nem sempre eu tenho a disponibilidade emocional necessária.
Com tanta coisa acontecendo e tantas informações não digeridas desde o ano passado, me sinto bastante travada para recomeçar.
Será que quero continuar “respirando autismo”? Saí de todos os grupos de pais porque queria outros assuntos. Queria viver minha vida. Queria parar de receber mais informações pra digerir, porque acho que já esgotei minha capacidade. Queria parar de discutir sobre o tratamento A ou B, sobre quem está certo ou errado. Parar de perder tempo com “tretas virtuais”. Será que eu tenho mesmo que me posicionar sobre tudo e, depois, ficar recebendo as porradas sozinha?
E será que quero continuar escrevendo sobre autismo? Será que já não esgotei o assunto? Afinal, o blog já está fazendo 4 anos. E nunca pretendeu ser algo super técnico no estilo “como fazer seu filho autista largar a fralda/comer/falar/etc”. Tem gente por aí que faz isso infinitamente melhor do que eu. Eu falo de sentimentos. De vida. Será que já deu?
De todas as redes sociais, a que tem me ocupado mais é o Snapchat. Talvez porque tudo o que eu posto por lá some em 24 horas. E não precisa de grandes preparações, filtros, análises. E, talvez, porque ninguém que me segue lá se importa se estou falando de autismo ou não. Posso falar abobrinhas, mostrar a Lola lambendo o Theo, rir dos escorregões na neve, contar banalidades do dia a dia que está ok. Informação corriqueira e perecível. Desabafos rápidos e perenes. Talvez este seja o meu momento.
Se você está sentindo tudo muito solto por aqui, você tem razão.
Falei um monte e não falei nada. E é isso. Assim comecei 2016: em reconstrução de mim mesma. Preciso ir, preciso me encontrar. E, quando eu me achar, quando eu tomar as decisões que preciso tomar, eu aviso! 🙂
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