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Uma mensagem pra quem me acompanha

Ando meio pensativa nessas férias escolares. Filosofando e me auto analisando com frequência. A verdade é que meu último ano foi muito tumultuado e estou estranhando a atual calmaria em que nossa vida se encontra.

Faz quase um mês que nos mudamos de volta pra nossa casa em São Paulo. Passei as duas primeiras semanas aqui com uma sensação meio nebulosa e indefinida, quase como se estivesse em um sonho. O que notei foi que a casa que deixamos em 2013 – e que reencontramos praticamente igual – traz conforto e incômodo como duas faces da mesma moeda. Conforto porque era o que tanto queríamos e pelo que tanto esperamos. Incômodo porque traz em si uma estranha sensação de hiato no tempo, quase como se os anos passados no exterior tivessem sido um sonho de uma noite, do qual acordamos novamente aqui. Na casa que continua intacta.


E a verdade é que a casa continua igual, mas as coisas estão bem diferentes. Minhas relações de amizade mudaram. Minhas relações familiares mudaram de certa forma. Minha relação com a vida e a cidade mudou. Minha relação com meu filho mudou…ele mudou, cresceu, amadureceu. Muita água passou por debaixo da ponte da minha relação com o marido, com quem completo 10 anos de casada dia 21 deste mês. E, não menos importante, minha vida profissional mudou. Meus objetivos se transformaram. O blog cresceu – juntamente com as redes sociais que gerencio – me transformando em uma pessoa bem mais exposta e vulnerável.

Nos últimos anos, ouvi e li muitas coisas a meu respeito. A maioria esmagadora foi de coisas positivas, muitas das quais nem mereço que sejam atribuídas à minha pessoa. Mas também houve críticas. Algumas pesadas. E lidar com isso tem sido um aprendizado diário.

As pessoas esquecem que também estou no Facebook, que também leio os comentários nos grupos de pais (ou lia), que temos amigos em comum. Já li que sou estrela, que sou metida. Já li que presto um desserviço. Até que faço apologia ao uso de psicotrópicos. Já li que eu e meu filho não somos um “case de sucesso” a ser seguido, já que ele é autista moderado a severo e não verbal. Já li que deixo o Theo maltratar a Lola. Que o exponho pra aparecer.

Já ouvi que não o estimulo o tanto que ele precisa. Que gasto tempo demais com este blog sem ter um retorno ($) por isso. Que não me esforcei o suficiente para que ele deixasse o Ipad de lado. Que desisti dele. Que sou uma péssima mãe.

Já li que sou obrigada a aguentar perguntas e comentários grosseiros e/ou invasivos porque me exponho na internet. Quase como um “saiu de saia curta, não reclame que lhe passaram a mão na bunda”.

O que tenho aprendido disso tudo? Que ninguém é obrigado a gostar de mim. E que críticas são coisa natural. Mas respeito é fundamental. E isso eu tenho todo o direito de exigir de quem quer que seja.

Tem uma frase totalmente “chavão de internet” que diz tudo: “cada um dá o que tem”. Nunca vou devolver amargura com amargura.

E, sobre tudo isso que ouvi ou li, não tenho como controlar o que cada pessoa pensa a meu respeito. Mas, de tudo o que faço/post/mostro, a mensagem que eu realmente gostaria que ficasse é a seguinte:

Você, mãe, também é mulher. Não deixou de ser mulher quando se casou. Muito menos quando engravidou. E nem mesmo quando teve filhos, mesmo que algum deles tenha uma deficiência. Você é humana: pode ter depressão, pode ficar triste e chorar, querer fugir, se descabelar, perder a paciência, gritar. Pode querer encher a cara só com as amigas. Pode querer viajar só com o marido ou namorado sem filhos. Pode querer fazer sexo escondida no banheiro enquanto o filho está com o Ipad na sala. Pode vestir uma lingerie sexy, falar palavrão, mandar nudes. Pode querer se cuidar, se ver bonita, gostar do que vê no espelho, pintar o cabelo, fazer a unha, o que quer que seja que levante sua autoestima. Pode postar selfie fazendo caras e bocas.

E, para quem tem filhos com deficiência, isso não é o fim da vida. É o início de uma vida diferente, com mais pedras no caminho, mas com flores e paisagens que só quem passa por ali pode ver. E dá, sim, para viver esta experiência com leveza, sem cair na vitimização, na amargura. Dá para ressignificar tudo a partir dessa vivência. Para se refazer, se redescobrir, descortinar um outro lado da vida que se esconde atrás do olhar daquela criança. Dá para ser feliz com o que se tem, e não com o que se idealizou. Dá para treinar o olhar de forma que ele encontre muito mais ganhos que perdas nesse desvio de rota que aconteceu no seu percurso. Dá. É possível. É factível. E a vida que se tem é única, não volta, e é um desperdício vivê-la lamentando.

E é isso que tento mostrar em cada foto ou vídeo “besta” que posto nas minhas redes sociais!

Você pode achar que sou metida, estrela, péssima mãe, e mais um monte de coisas, se lembrar desses dois parágrafos acima. Aí, mesmo sabendo que você pensa isso a meu respeito, juro que vou ficar feliz. 🙂

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