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Uma montanha russa chamada “fala”

Já ouvi muita gente se referir ao autismo como uma montanha russa. Aqui em casa, o autismo até consegue ser bastante previsível. Mas a fala…ah, gente. Essa é a minha montanha russa! Theo começou a balbuciar aos 5 meses. A primeira palavrinha foi “papa” (que começou com o famoso “papapapapa”). Esse vídeo é delicioso:



Um mês depois, aos 6 meses, foi o “mamã”. Aos 2 anos, veio o diagnóstico e ele iniciou fono e comportamental. Até os 2 anos e meio, mesmo com o autismo já tendo se manifestado de forma mais forte, ele continuava cantando partes de músicas e falando palavrinhas isoladas, nem sempre com intenção de comunicação.

Theo tinha umas ecolalias muito engraçadas. Teve uma época em que, do nada, falava “MABOOOOUA”. E a gente ficava sem entender. Depois de um tempo quebrando a cabeça, fui lembrar que tínhamos visto um filme em que se falava a mesma frase toda hora: “tudo numa boa!”. Bingo!

Mais perto dos 3 anos, ele começou a querer juntar duas palavrinhas. Se olhava um livro onde havia uma bola, ele falava “a bóa”, por exemplo. Chegou a me avisar uma vez em que tinha feito cocô na fralda e, até mesmo, pediu batata durante o almoço. Esta cena, aliás, nunca vou esquecer, porque ele começou a falar baixo “atata”. Eu e a babá dele nos olhamos e eu elogiei: “que lindo, filho, você falou batata!”. E ele continou: “atata, atata, ATATAAA, ATATAAA”. Foi quando percebemos que ele estava pedindo, e não simplesmente falando.

E foi a partir daí que a coisa se complicou. O quadro de autismo do Theo deu uma piorada entre os 3 e 4 anos. Foi quando o sensorial dele se complicou de vez, veio o comportamento restrito e repetitivo, e ele perdeu, em poucos meses, TODA a pouca fala que tinha. Nem o “mamã”, que ele falava sempre, salvou.

Já conversei com alguns médicos sobre isso e a maioria concorda que pode ter sido devido a uma poda neuronal que acontece nessa idade, quando o cérebro faz uma “autolimpeza” e elimina conexões neuronais que não estão funcionando da melhor maneira.

Depois dos 4 anos e de ter perdido TUDO, começou a falar “dá”. Era “dá” pra tudo, com a maior empolgação. Um psiquiatra infantil me disse, na época, que a fala só iria aumentar, e que ele não perderia mais.

Mas perdeu, sim. Do nada, parece que esqueceu o “dá”. O máximo que conseguimos depois foi um “ah”. Ano passado e até mudarmos pra Londres, ele falava, além do “mamã”, “bibi” (apelido da babá dele) e “a-bi” (um “abre” meio separado, porque ele tinha dificuldade em juntar as 2 sílabas).

E, foi em Londres que ele aprendeu o “má” (“more”, ou “mais”), que ele usa até hoje pra tudo o que quer. Lá, também, aprendeu um som de “s”. E, quando a Lola chegou, veio o “oua”, que ele ainda fala bastante. Mas…perdeu o “a-bi” e o “bibi”. =/

Faz uns 4 dias que o Theo tem falado umas sílabas malucas. Até palavra ininteligível de 3 sílabas apareceu.

Esse bonitão adora surpreender!

Esse bonitão adora surpreender!


Sabe quando a criança típica está aprendendo a falar e vem com aquela linguagem própria? Pois é. Dizem que isso é bom sinal. Mas isso também já aconteceu em outras épocas e foi embora de novo. =/

Mas uma coisa muito boa: desde anteontem, aparentemente, temos uma nova palavrinha que é “papa”, ou “papapa”. O pai dele não poderia estar mais feliz! 🙂

Eu digo que o Theo é meu maior mistério. Um menino lindo que entende praticamente tudo o que falamos com ele em português, muita coisa em inglês e, segundo os próprios professores, algo em sueco. Tem horas em que parece que estamos lidando, simplesmente, com um garotinho que não fala!

E o que eu aprendi até hoje com essa montanha russa?

  1. Existe uma boa chance de que meu filho não venha a falar. É chato falar isso, mas é um fato. Ao mesmo tempo, se você me pergunta se vou desistir, a resposta é NUNCA.  Vou continuar tentando o resto da vida. Suco, aqui, vai golinho a golinho e ele tem que pedir “mais ssss” toda vez.

  2. No entanto, a vida não para enquanto a fala não vem. O importante é que ele aprenda a se comunicar! E, para isso, estamos investindo no PECs na escola e em casa.

  3. Qualquer palavrinha que ele fala desencadeia uma ação imediata. Nem que seja uma baita festa com cócegas, mas pra ele ver que as palavras têm poder.

  4. Um dia de cada vez. Não é porque agora ele está falando “papa” ou balbuciando que eu vou acreditar que “agora ele vai falar”. Já passamos por isso algumas vezes pra aprender a dosar as expectativas. Às vezes, parece que são 2 passos pra frente e 1 pra trás, mas o importante é continuar andando!

  5. Se, mesmo com o PECs, a fala não vier, mais tarde, podemos passar para um aplicativo de comunicação daqueles que “falam”. O importante é que ele terá uma voz!

P.S: atualização de 2016: Theo, atualmente, só fala o “má”. Tenho praticamente certeza que ele tem apraxia de fala. E vamos investindo na comunicação alternativa!

P.S.2: atualização de 2017: voltamos a investir na fala com um programa de ABA desenvolvido pela psicóloga Camila Gomes, baseado na imitação. Estamos, também, trabalhando a apraxia. Theo até já sabe pedir pizza! <3

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