Assim que recebemos o diagnóstico do Theo, procuramos filmes que abordassem o autismo de alguma forma. E caímos direto em Mary & Max e Adam. Que me desculpe quem gostou, mas achamos os dois extremamente deprimentes, nada legais pra um casal que acabou de saber que o filho é autista, e choramos baldes pensando no futuro negro e sombrio que aguardava o Theo.
Já estava desistindo dos filmes com essa temática quando alguém me sugeriu “After Thomas”. Esse é um filme baseado na história real de uma família com uma criança autista e seu cachorro. Pensei “filme com cachorro, em geral, é leve”. Sim e não. O filme começa mostrando o dia a dia da família antes do cachorro. O menininho é autista severo e sua mãe passa vários apertos com ele. Nessa parte, eu chorei de novo, me imaginando na mesma situação (o Theo ainda era novinho…tinha só 2 anos). Daí, entra o cachorro…e essa criança começa a aprender a se relacionar, a entender os sentimentos do outro e até a se comunicar melhor.
Valeu a pena cada segundo desse filme. Se você não viu, aí vai ele:
Acabei pesquisando mais e descobri que o menino autista do filme, hoje, tem faculdade, é independente, está realmente muito bem. Se você entende inglês, aqui tem uma reportagem legal sobre a família: http://www.dailyrecord.co.uk/news/real-life/scots-mum-tells-how-familys-2365576
E, desde então, a ideia de dar um cachorro pro Theo não saiu da minha cabeça. O problema é que morávamos em um apartamento em SP e um cachorro de índole mais dócil como um labrador ou Golden Retriever ficaria meio “espremido” ali. Deixei o sonho encostadinho e vi o tempo passar.
Agora, estamos em outro país, morando em uma casa com quintal. Já tínhamos decidido procurar o cachorro, mas eu não sabia que o processo aqui era tão complexo.
Cachorro no Reino Unido é coisa muito séria. Estou aqui há 4 meses e já vi raposa, veado, pato, mas NUNCA vi um cachorro abandonado na rua. Muita gente já está colocando microchip nos cães porque, por lei, a partir de 2016, vai ser obrigatório. Assim, fica bem mais difícil alguém abandonar um cão e, se perder, é fácil de achar.
A recomendação de todos com quem falei foi unânime: entrar no site do Kennel Club e procurar os criadores credenciados. Que não são muitos…pelo menos não para a raça que eu queria. A demanda é sempre maior que a oferta e, por isso, eles “escolhem” pra quem querem vender.
E lá fui eu escrever um dos emails mais melosos da vida. Basicamente, contei que tenho um filho autista, que vi um filme em que um Golden Retriever ajudava muito um garotinho na mesma situação e descrevi o Theo como ele realmente é: uma criança adorável, esperta, muito carinhosa e amorosa. Pra encerrar, anexei uma foto dele bem lindão e terminei com a frase de impacto: “I’m sure he will love this dog until his last breath” (algo como “tenho certeza de que ele vai amar esse cão até a morte”).
E comecei a receber as respostas: “Adorei seu email, mas todos os meus filhotes já estão reservados”. “Lindo o seu email, mas não tenho nenhum filhote disponível nessa ninhada. Talvez no fim do ano” (o que??? Mas estamos em fevereiro!!!). Sim…os cães de bons criadores não são usados como encubadora de filhote. São cuidados. Não vão ficar “engravidando” toda hora assim.
Já estava perdendo as esperanças quando recebo um email de uma senhora chamada Debra: “lindo o seu email, fiquei muito tocada. Tenho, sim, um filhote pra você. Você pode me ligar?”. O coração quase saiu pela boca…liguei assim que pude e já fui perguntando quando poderia pegar a cachorrinha e onde era. Daí, ela pôs meus pés no chão: “você precisa vir aqui para conhecer a mãe deles e ver se é esse tipo de temperamento que está procurando. Além disso, gosto de entrevistar os interessados para entender se, realmente, essa vai ser uma boa família para o cachorrinho”. Olha…já fiz seleção pra estágio, pra trainee de empresa, mas nunca passei por uma seleção pra mãe de cachorro! Ok…mais uma prova de que as coisas por aqui são bem sérias!
E lá fomos nós para um passeio na zona rural inglesa, a umas 2 horas de viagem.
Chegando lá, mal descemos do carro e já fomos recepcionados pela mãe das belezuras: a Neetle. Linda, simpática, chegou de mansinho, não pulou em ninguém, mas estava claramente querendo fazer amizade.
Eu e a Neetle
Ela ficou imediatamente encantada com o Theo. Mas ele estava meio inseguro…primeiro porque nunca se aproximou de um cachorro desse tamanho. Segundo, eu imagino, porque sempre que ele se aproxima de cães desconhecidos na rua a gente grita “NÃÃÃO”!! Acho que ele ficou meio confuso, né?! Como assim agora pode? E ela respeitou e se afastou. Mas voltava de novo a rodeá-lo a cada 5 minutos.
Até que, quando estávamos indo embora, ela se aproximou da porta aberta do carro, onde o Theo estava sentado. Bastou ele fazer contato visual que ela se sentiu convidada e pulou pra dentro do carro.
Theo e Neetle
Chorei muito. Fiquei emocionada por vários motivos: por um sonho que se realizava, por poder achar um cão tão especial e por ver o tato e a sensibilidade dessa mãezinha com uma criança como o Theo. Tudo muito perfeito!
Para terminar, tivemos que escolher a filhotinha…essa foi a parte mais difícil. Parece que você está “escolhendo um filho”, e isso é uma posição bem desconfortável. Ficamos com essa figurinha aí, que vamos chamar de Lola:
Lola
Vamos buscá-la daqui a 2 semanas. Ela ainda é muito bebê e precisa de mais um tempo com a mãe e os irmãozinhos.
Eu sempre achei que cães faziam milagres com crianças especiais. E a Lola já fez um sem nem saber. Antes de sairmos para a viagem, conversei com o Theo e falei que íamos visitar uns “au-aus” pra escolher um pra ele. Theo ainda é não verbal, mas passou a viagem inteira falando “AU-AU”. 🙂
Tenho certeza de que muitos outros milagres vêm por aí. Vou fazer questão de documentar tudo. A Lola tem muito o que ensinar pro Theo e vice-versa. Tivemos a sorte de achar uma mãe como a Neetle, que teve filhotinhos como a Lola. E a Lola vai ter a sorte de conviver com o Theo, uma criança tão especial e carinhosa que, tenho certeza, vai realmente amá-la até a morte.
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